A Substância
Eu realmente não gosto de cenas com intervenções físicas ao corpo. Não tenho problema com nudez, nem sangue, nem escatologia, mas basta aparecer uma cena com alguém com uma agulha que já me sobe um arrepio pela espinha.
Pra entender melhor, eu assisti Dr. House milhares de vezes (acho até que literalmente 😂) e toda vida que alguém precisava tirar sangue, eu virava o rosto involuntariamente.
Feito este aviso prévio, dá pra entender porque eu não gostei de A Substância. Não é pra mim. Na verdade, é justamente o sentido contrário dessa expressão. Se fosse propositalmente desenhado um filme para eu não gostar, ele teria muitas das características que as pessoas amaram neste filme.
Achei a direção de fotografia muito bonita. A produção também é uma aula, figurinos e cenários meticulosamente desenhados para compor a narrativa, uma superfície muito limpa e higiênica mas beeem na superfície mesmo.
Gosto da simbologia criada através das metáforas visuais. Uma das interpretações que o filme propõe é do quanto você deve sofrer para se adequar a um padrão estético, algo muito contemporâneo em tempos de Ozempic e intervenções cirúrgicas mortais, e acho que este tema é abordado de maneira magistral quando coloca-se este tópico para uma mulher mais velha, em que seu trabalho depende da sua aparência e este problema gera nuances que são muito bem abordadas no filme, principalmente, pela perspectiva feminina(e feminista) da diretora que chega a brincar colocando os personagens masculinos como bobões.
Mas o filme me perde muito, no final, quando a diretora dobra a aposta na estranheza e surrealismo. Quando o que era absurdo fica ainda mais absurdo, beirando ao caricato, sinto que a história e beleza nas sutilezas das metáforas acabaram e ficamos apenas com o horror pelo horror (acho que isto é até um gênero por si só).
Acho que em tempos passados, onde eu frequentava rodas de cinéfilos com alunos de Cinema da UFC, me esforçaria mais para gostar de tudo isso. De apreciar o valor em quebrar o status quo e chocar com a mensagem cruamente distorcida esfregada na tela.
Hoje, só acho masturbação mental digna da Roupa nova do Rei.