calção, camisa e chinelo
Estava eu em um evento da firma, uma noite fria de um hotel aleatório no meio de uma serra qualquer de Minas Gerais, trajando uma camisa do Leão do Pici, um calção de linho laranja e uma havaiana azul com tira de pano. Quando eu estava arrumando a mala não planejei essa combinação. A bem da verdade, eu nunca planejo as combinações. Meu guarda-roupa é uma não tão grande variação de bermudas (jeans e de linho), camisas lisas de tons escuros (algumas da chico-rei com estampas engraçadalhas) e chinelos (sim, no plural). Até devo ter umas 3 calças e uns 2 tênis. Uma ou outra camisa de botão e 2 moletons para o frio por motivos de Curitiba. Então, 90% do tempo você vai me ver com um "look" parecido.
Seja para dormir, seja para um restaurante pomposo.
Sempre defendi isto como um traço de personalidade. Não sou vaidoso e defendo o conforto e praticidade acima da estética.
Só que após a terceira pessoa me indagar sobre as minhas coxas de fora naquela noite, eu confesso que me questionei sobre minhas escolhas. Contei este acontecimento para a digníssima que logo brincou com um colega, que estava presente na festa da firma, sobre meu visual:
- Quer dizer que o Gustavo era o mais mal vestido da festa?
Amigo este que respondeu, sem titubear:
- Amiga, ele tava uó!
Não foi prático, nem confortável ter que explicar, repetidas vezes, a razão de eu não ter optado por um tênis naquela noite. Juro pra vocês por tudo que é mais sagrado, no alongar da noite, as 2h da manhã, após muitas biritas na cabeça, em meio ao breu de um canto isolado, no meio de um aglomerado de pessoas, ainda tinha gente comentando sobre meus dedos ao relento.
Só eu que ainda escuto Charlie Brown Jr e mantenho o espírito do Chorão vivo?
Acho que foi um acontecimento catártico. Não que eu já não tenha me questionado sobre isto anteriormente, já venho estudando sobre relógios (e outros acessórios) afim de incrementar minhas possibilidades estilísticas. Mas eu tinha uma visão apenas de adicionar possibilidades e não reestruturar e questionar minhas decisões. Quem me conhece pessoalmente sabe que não existe mais um lampejo de juventude na minha personalidade a não ser meu guarda-roupa. Comentei recentemente na postagem de um filme que olhando de fora é extremamente estranho ver um quarentão de gola polo listrada em uma balada. Não deve ser tão diferente assim quando se fala de um cara de chinelo na festa da firma. Não me entenda errado, eu não pretendo deixar o visual prático-confortável para trás. Só quero adicionar ao meu repertório outras possibilidades e, principalmente, parar para refletir e saber escolher as combinações adequadas para cada ocasião. Uma tarde ensolarada de verão no parque ainda pede calção com chinelo, certo? Talvez seja até aí que nasceu o problema: no Ceará é sempre verão.
Mostrando as fotos deste evento, logo fui surpreendido com uma pergunta:
- Este é o chefe?
Não era. Mas eu entendo de onde saiu essa percepção, ele era o mais bem vestido da foto. É inegável que o seu traje vai ser a sua mensagem inicial comunicada. A suas roupas vão ser seu cartão de visita, seja para o bem ou para o mal. Admito que não quero ser mais o destaque negativo nesse sentido, acrescentei as minhas metas melhorar a maneira como me visto.
Então só resta fazer o que acredito que faço de melhor: estudar, aprender e experimentar. Já fiz isso quando aprendi a cozinhar, ou quando comecei a treinar, ou quando troquei de profissão. Acho que o primeiro passo para qualquer mudança efetiva é o reconhecimento da sua ignorância e o planejamento dos primeiros passos. Falei disto em uma postagem anterior quando me senti insatisfeito com meu corpo e resolvi mudar. Hoje já consegui melhorar o produto, só preciso dar mais atenção a embalagem xD