Cyberpunk: Mercenários
Gosto muito de assistir séries animadas no avião, normalmente são episódios de 20 e poucos minutos que ficam naquele limiar de pausas ideais para ajeitar a postura e por a cabeça no lugar. Na viagem para Fortaleza, olhando minha lista de séries salvas na Netflix, peguei Cyberpunk para assistir.
Já de cara me pegou, a narrativa começa eletrizante e com uma estética que se destaca das produções similares. Acho que isso é o que deixa você vidrado na série até o fim, uma fórmula que une cenas de ação emocionantes apresentadas em uma linguagem inovadora.
Acho que em postagens passadas já falei sobre o meu tédio com obras +18, com violência explícita apenas com intuito de chocar, não acho que seja o caso aqui. Tem muita brutalidade e nojeira mas que eu vejo se encaixar com a história apresentada, onde temos uma trama que aborda o uso de tecnologia para transformar humanos em máquinas mortíferas com o custo de corrompê-los completamente em cyberpsicopatas. O aprimoramento do corpo as custas da mente. Paralelo até bem real nos dias atuais, pelo menos nos grupos de maromba que acompanho. O conceito de cyberpsicopata ficou bem confuso. Funciona bem como metáfora mas as lacunas das explicações dadas quebram a suspensão da descrença. O enredo apresenta o problema como algo fisiológico mas a todo tempo temos argumentos como "força de vontade" ou "ser especial" que descredibilizam a doença. Inclusive, a construção dos personagens não faz questão de destacar essa nuance, já que por muitos momentos a morte de desconhecidos é completamente banalizada.
O universo em si também é bem limitado, com um mundo apresentado que já é possível inclusive passear na Lua mas todas as tecnologias são designs diferentes para o que já existe hoje. Temos um hardware capaz de se comunicar com a medula espinhal mas o software pode ser hackeado em minutos sem deixar nenhum log. Muitas dessas interações que envolvem o futuro são completamente jogadas sem dar a devida explicação, o que me incomodou bastante, apesar de eu entender que parece ser uma decisão da direção. Digo isto pelas decisões estéticas desse mesmo âmbito, por exemplo, quando eles invadem a mente de alguém é apresentado como um mergulho em águas turvas. As barreiras são virtuais mas as informações ficam guardadas em simulacros físicos. Pareceu tudo um grande "use a imaginação para preencher as lacunas".
Inclusive, acredito que parte desse aspecto venha por conta das limitações de orçamento, que nesta obra ficam bastante evidentes. O uso de animação limitada, imagens estáticas com narração over, até mesmo os glitchs foram bem utilizados, a ponto de não existir uma quebra de ritmo por estes detalhes mas que não passam despercebido.
No geral, eu gostei. Acho que o final foi bem construído ao longo dos 10 episódios e terminou redondinho. É previsível sem ser clichê. Temos arcos bem definidos entre os episódios e a narrativa segue uma linearidade a ponto de eu ficar me perguntando o porquê de ter sido lançado como uma série ao invés de um longa. A única explicação que consigo imaginar é que vamos ter muitas outras temporadas. Veremos.
Menção honrosa também para a trilha sonora que é uma delicinha. Excelente pra deixar de fundo no trabalho ou na esteira.