Damasco
Logo de cara é um artefato belíssimo. Esse quadrinho está muito bem acabado, cada página é um primor e a capa é muito atrativa. A cor do damasco se encaixa muito bem ao longo de toda a obra mas já na capa ela tem um impacto marcante. A contracapa tem um padrão muito bem elaborado que já remete sobre a narrativa que vem a seguir, Saulo no meio daquele cenário caoticamente opressor onde ele se perde. Ele não é mais do mesmo, tão pouco tem seu lugar de destaque.
A execução é muito bem feita, os autores mostram o pleno domínio da arte sequencial. O uso dos quadrinhos para contar essa história tem um tecnicismo aflorado, onde todas as interconexões do gráfico com o textual foram metricamente pensados. Contar uma história usando quadrinhos traz possibilidades técnicas que quando usadas com excelência trazem profundidades narrativas que nenhuma outra mídia consegue assim tão facilmente. Existe uma sequência de desenhos onde é exibido uma comida no fogão que sai do estado cru ao queimado, onde caracteriza o brilhantismo do uso da linguagem. O leitor imediatamente tem a noção da passagem de tempo e também subliminarmente emite a mensagem de que "tá dando ruim aí ein".
A narrativa em si é um pouca confusa e claramente é algo proposital, Saulo não está conseguindo se encaixar no mundo. O caos dos ambientes corporativos e urbanos sempre sendo contrastados com o vazio do mundo privado. E o caminhar de tudo é cortado, acompanhamos apenas trechos, muitas vezes desconexos, de suas relações. Enquanto leitor, não conseguimos entender suas motivações. O empasse final me levou a ter zero empatia com o dilema vivido.
A bem da verdade, sinto que terei que reler esta obra outras vezes, com uma cabeça diferente para tentar melhor captar as nuances existentes na história. Achei o posfácio bem desnecessário, pra ser sincero, entram em uma masturbação mental de tentar explicar os significados por trás dos signos mas no fim só parece o humorista tentando explicar a piada. Nunca tem graça.