Notas de uma mente inquieta

Demolidor: renascido

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Mês passado eu fiz uma postagem sobre a série do Demolidor na Netflix justamente inspirado por esta nova edição que estava para sair. De fato, é possível entender essa nova temporada como uma continuação da obra passada, não apenas pela manutenção dos personagens mas a trama usa de fatos anteriormente narrados para dar prosseguimento a história.

É preciso usar um pouco de imaginação para preencher as lacunas da mudança de universo entre as temporadas e os roteiristas não colaboram com isso. Beleza, os personagens base estão ali mas logo no primeiro episódio tudo vira do avesso e a expectativa gerada na continuação dos dilemas da obra anterior vai para o ralo. Dá um sentimento de ser feito de bobo por todos os anúncios levarem para uma direção mas na prática eles querem exibir outra coisa. Até aí tudo bem, são poucos episódios por temporada e isso poderia ser o prelúdio de que eles correriam para desenvolver os novos conflitos, certo? Poisé, não é bem assim. Acho que a Disney, mesmo contra o seu histórico, manter a classificação indicativa +18 foi um acerto, já que a história pede a exposição de cenas de violência explícita para a construção do temperamento dos personagens. Não estamos falando apenas de criminosos quaisquer, estamos falando do Rei do Crime.

Assim como a primeira temporada da série da Netflix, o desenvolvimento do Rei do Crime é bem legal. Confesso que me soou estranho como a população foi convencida em votar no Fisk para prefeito, mas nos tempos que temos reis do crime sendo eleitos constantemente, não temos muito o que comentar sobre isto 😂. A escalada de violência em seus atos é bastante verossímil a cada passo que ele vai conquistando confiança com o poder que lhe é provido, sempre se provendo de uma sociedade imersa na corrupção. Com isso o combate aos vigilantes mascarados é extremamente conveniente, a ponto que de um lado ele elimina os heróis que atrapalham seus negócios escusos, ele dá mais poder para a força policial da cidade.
Já toda a dinâmica com a Vanessa não foi muito interessante. Sempre enxerguei o arquétipo dela como um freio moral para o Rei do Crime, um lapso de humanidade para este personagem que carrega uma personalidade de pura violência. Esse conflito que nasce pela disputa de poder entre o casal me pareceu apenas uma desculpa esfarrapada para introduzir a namorada do Matt ao dilema.

Tirando este núcleo, todo o resto me pareceu extremamente confuso. Como mencionei, entrei com a expectativa da continuação dos dilemas passados mas não era isto. Depois me pareceu que seria uma série procedural de advocacia de heróis (algo que até mencionei na postagem passada) mas também só dura um episódio. Aí eles trazem o Justiceiro de volta para desenvolvê-lo na trama de corrupção da cidade, não é mesmo? Nop. Mas agora veio o Muse, um megavilão com problemas psicológicos que age na escuridão e... não tem nada ali. Por fim, para trazer o Pointdexter novamente neste ciclo que não vai a lugar algum.

Tivemos introdução de outros personagens que poderiam ter sua importância na evolução da narrativa como a BB mas é dado pouquíssimo tempo de tela para seu desenvolvimento. O próprio Matt não se encaixa muito bem em nenhum núcleo, em sua ultra bem-sucedida empresa ele não parece sequer frequentar aquele lugar. Na vizinhança antes frequentada ele parece fugir dos dilemas para não aflorar seu lado herói. Na alta sociedade da cidade ele é conhecido por todo mundo mas finge sequer ser convidado por eles. Se me perguntassem qual a motivação do Demolidor nesta temporada eu não saberia responder.

Sempre ouvi falar que o quadrinho usado como referência para esta nova obra é um dos melhores HQs de todos os tempos. Então foi um pouco frustrante ver esse caos de roteiro apresentado, mas isso me motivou a ler a obra original e comparar com o que foi apresentado, além de me preparar para as próximas temporadas.

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