Disclaimer
Ontem, terminei de assistir Disclaimer (Apple TV). Série que descobri assistindo alguns vídeos sobre as melhores minisséries de 2024. Entrei na jornada sem saber absolutamente nada sobre a história, apenas com o sentimento positivo oriundo da excelente reputação dos originais da Apple, que na minha opinião, em 2024, teve o melhor repertório de originais. Já confiei outras vezes no que a Apple tinha para oferecer e sempre me surpreendi positivamente. Os programas Silo, Shrinking, Shinning girls, Ted Lasso e a majestosa Severance são excelentes obras e as recomendo fortemente.
Falando sobre Disclaimer, devorei-a em 2 dias. A história é envolvente e já entrega tudo que promete no episódio 1. O formato, a maneira, a direção da narrativa, através de narradores-personagens, é o que deixa tudo mais interessante. Eu, admirador do Célebre Inquilino do 221B, logo tentei ativar meu lado investigador e descobrir o final durante toda jornada. Cada episódio, divididos elegantemente em capítulos, apresentava novas pistas, algumas delas conflitantes, até a conclusão no episódio final.
Cuarón brinca com o espectador, mostra que um Contador de Histórias talentoso consegue chegar ao final da jornada, levando pelo caminho que ele deseja. Você quer ver as flores ou a estrada de terra?
O uso da metalinguagem com literatura foi muito acertado. Seja os episódios divididos em capítulos, com um narrador contando a história de um livro, como na visão da documentarista que tem sua vida abalada por uma história apresentada como real mas contando apenas uma perspectiva do todo.
Há de se entender o aspecto sútil na mensagem final, que, na minha opinião, a interpretação sobre uma ótica feminina tende a ser muito mais expressiva do que a de qualquer homem.
🚨 Área com spoilers 🚨
Acompanhar uma mulher tendo sua vida virada de ponta a cabeça por uma suposta história, apenas baseadas por evidências de morais e costumes, deve nos fazer refletir sobre como esse modus-operandi está enraizado na nossa cultura. A história contada sob a perspectiva da mãe do Jonathan já era evidência o suficiente para mostrar que toda aquela narrativa era falsa, ela não estava lá. Mesmo assim, somos levados a duvidar da Catherine ao longo de tudo, inclusive, na cena final onde o Nick aparece na foto, esse sentimento de dúvida volta. Por quê?
É fácil criar paralelos com a vida real, a invisibilização da opinião da Catherine não nos soa estranho pois é muito presente no nosso dia a dia, seja pelo marido que quer ser o único homem na vida dela, ou do filho que não a respeita, ou do oportunista no trabalho que vai esperar qualquer brecha para diminuí-la, ou até mesmo ela mesma que se obrigou a esconder a violência sofrida pensando nos outros.
Confesso que a mensagem da Apple Tv introdutória sobre violência sexual em todos os episódios quebrou um pouco da imersão. Eu desconfiava do final apenas por mostrar essa informação em todos os episódios. Entendo a importância deste tipo de comunicação mas será que não deveria ser mostrado apenas no episódio que acontece?