Flores para Algernon
Um livro com uma premissa bem simples mas muuuito curiosa: e se fosse possível aumentar a inteligência de uma pessoa com deficiência intelectual? O livro é de 1959, então confesso que tive certo estranhamento com alguns termos usados como: retardado ou imbecil. Também é possível sentir esta temporalidade quando vemos certo apreço a algumas correntes científicas e culturais que estavam bastante efervescentes naquele período: quociente de inteligência, interpretação de sonhos, behaviorismo, liberdade sexual, etc. Impossível não criar paralelos com Laranja Mecânica, um clássico que gosto bastante da mesma época, tanto no conteúdo quanto na execução. A tentativa de moldar a psique de um ser humano através de manipulações científicas e toda essa experiência narrada em primeira pessoa pelo sujeito do experimento.
O primeiro terço do livro é bem mais interessante por estar apresentando esta premissa da possibilidade de manipular inteligência artificialmente (engraçado 60 anos depois, inteligência artificial ter outro significado) que será explorada, passado essa introdução achei todo o resto muito repetitivo e previsível. Toda a exploração sexual e barreiras mentais do Charlie ficou preso no estereótipo da psicologia dos anos 60 que tudo se resumia a Freud. Teve apenas um tópico que me fez refletir bastante: existe relação entre ser uma pessoa com inteligência acima da média e ser antissocial? Não sei, me soa muito antiquado. Parece toda aquela confusão que se fazia no século passado sobre superdotado/asperger/tdo/autista como se fossem a mesma coisa. Particularmente, enxergo no manejo social uma inteligência, resumir a "gênio" apenas as pessoas que dominam conteúdo academicista mas que não conseguem se conectar com outras pessoas é uma visão limítrofe da capacidade do ser humano. Até acho que o livro explorou isso de maneira interessante, trazendo mais perguntas do que conclusões, deixando claro que o experimento com o Charlie (e o Algernon) foi algo muito específico e pouco entendido sobre suas consequências.