Flow
Ano passado fui ao cinema sem nenhuma pretensão e entrei para assistir o Robô Selvagem. Saí de lá encantado! Filmaço! Roteiro, animação, direção, tudo lindo e maravilhoso. Filme memorável que reassistirei mais umas dez vezes antes de morrer. Desde lá encampei uma torcida para ele para o Oscar de 2025.
Ontem, na cerimônia quem ganhou foi o Flow, filme que eu mal tinha ouvido falar até então. Sabia que era uma animação que envolvia animaizinhos e não tinha diálogos. Mas não me surpreendeu o suficiente para ir atrás de assistir até o momento do discurso do diretor que agradece ao Blender diretamente das câmeras para mais de 1 Bilhão de pessoas assistindo.
Para quem não sabe eu usei o Blender por muito tempo. Acho que é mais do que isso, eu evangelizei sobre o Blender desde que o conheci lá em 2010. Eu palestrei, dei aulas e trabalhei em agências de publicidade e estúdios de animação que usavam sempre majoritariamente softwares proprietários e eu fazia questão de propagar a palavra desta ferramenta que sempre foi subestimada no mercado.
Faz anos que não trabalho mais com design/animação e deixei de acompanhar a ferramenta de perto e saber disso mudou minha cabeça completamente. Corri para assistir Flow imediatamente e adorei. É daqueles casos de Davi contra Golias, uma produção de um estúdio pequeno da Letônia usando um software livre contra Pixar e DreamWorks. Não tem como não torcer para eles. Na minha mente veio vários paralelos com O Menino e o Mundo quando concorreu contra Divertidamente 1. Não tem como genuinamente não ter empatia pela felicidade daqueles 4 caras subindo no palco e representando uma nação inteira com um filme bem poderoso. Acho que esse gatinho entrou para a história da animação com um feito extraordinário.
E o filme é muito bom. Conseguir aflorar os mais diversos sentimentos em nós sem o uso de diálogos, durante mais de uma hora, é algo muito delicado e difícil e esse filme atinge isso com maestria. É esteticamente muito preciso. O filme mescla bem o real como o artístico. Os movimentos dos personagens buscam dar vida de maneira próxima ao real dos animais, sem ações caricatas, porém o desenho e as composições buscam o artístico. O não uso da antropomorfização dos animais funciona muito bem pois a imagem não é fotorrealista.
Enquanto filme, Robô Selvagem me marcou muito mais. Mas enquanto produção cinematográfica, Flow fez algo histórico e por conta disto a laureação foi mais do que merecida.