Grande Sertão: veredas
Não tive a felicidade de experenciar esse autor em tempos de escola, como muitos tiveram. Mas até consigo imaginar o meu Eu ranzinza da adolescência reclamando disto 🤣 Eu no ápice dos hormônios juvenis defenderia que adolescentes precisam ler Dan Brown e Game of Thrones. Aaa o tempo...
Digo tudo isto pois já tinha tentado ler essa obra algumas outras vezes. Só que existe um entrave ali nas primeiras páginas que vai dar um banho de humildade nos desavisados. Todo o neologismo de Guimarães Rosa moldado em obras clássicas da literatura europeia assusta e muito no primeiro contato. Então, ter a oportunidade de ter um profissional das letras acompanhando esta jornada junto com Riobaldo, parece-me ser um facilitador enorme para melhor absorver tantas possibilidades que este enredo tem para entregar.
Até que me deparei com a versão em quadrinhos deste clássico e, se vocês já notaram, este ano eu caí de cabeça neste universo. Enxerguei ali a oportunidade de melhor compreender esta tão renomada história, pelos menos de uma maneira "mais convidativa". Confesso que foi um super acerto, esta edição da Quadrinho na Cia. está um espetáculo. Cada gravura poderia ser um quadro a ser colocar na parede, o roteiro conseguiu sintetizar muito bem toda a aventura de Riobaldo e Diadorim pelos sertões do Brasil com uma gama de cores que só nosso Brasilzão consegue apresentar. Um destaque especial aos tons laranja-amarelados com uma enorme variação entre os dourados-ressecados aos laranja-crepitantes.
Para quem não conhece a narrativa, trata-se de uma aventura vivida por um sertanejo explorando os mais longínquos cantos do sertão de Minas Gerais, Goiás e Bahia. Tudo isso repleto de batalhas e conchavos com ares medievais. Temos os guerreiros (jagunços) de tons cavaleris contratados e entitulados brigando pela honra de vossos senhores. O que agregou ter a parte visual dos quadrinhos para abrilhantar toda esta energia.
É sempre enobrecedor ter contato com arte nacional de tanta qualidade. Ainda mais uma com tanta personalidade tupiquim impressa e com uma execução moderna e clássica ao mesmo tempo, com dilemas terrenos e espirituais, universais e atemporais.
Gostaria muito escutar de quem leu a obra original e esta adaptação o quão fiel está a entrega e se sentiu falta de algo. A complexidade da montagem deste roteiro deve ter sido tremenda, escolher o que fica e o que sai com certeza não foi uma tarefa fácil. A questão é: faz sentido apresentar esta obra antes da original?