Mickey 17
Eu falei na postagem do livro que tava com a expectativa alta para este filme... Ai ai, que decepção. Já achava que tinha acertado em ler a obra original anteriormente, agora eu tenho certeza!
Tudo que eu narrei ter gostado no livro, nas reflexões geradas pela existência dos múltiplos, no cinismo com a morte, nos detalhes da terraformação e exploração de novos planetas, na essência de uma obra de ficção científica... Nada disto está presente no filme. E pior, parece que isto é feito de maneira proposital, o Mickey 18 foi desenhado para se apresentar como uma pessoa diferente do Mickey 17, matando toda a filosofia por trás "do barco de Teseu" explorada no livro.
Assim, com muita boa vontade, o filme tenta adaptar a referência até a metade do filme, do meio pra frente já vira uma coisa estranhíssima e caricata. Você até entende onde o Bong Joon-ho quer chegar com as alterações da narrativa para deixar tudo mais visual ou encaixar no orçamento, mas não os personagens, principalmente do Marshall que virou uma representação burlesca destes políticos de extrema direita da atualidade. Onde se tinha uma figura conservadora que era contra a existência dos seres humanos descartáveis por questões religiosas, encontramos o idealizador da ideia para fins financeiros. No amigo que tinha uma desfaçatez perante sua morte, agora temos um pilantra que inclusive matará você cruelmente para se livrar. Na namorada rígida e ciumenta, agora temos uma devassa psicopata.
Eu falei recentemente aqui sobre adaptações, neste caso não são apenas mudanças pontuais de interpretação, é realmente algo distintamente pobre. Se eu tivesse assistido a adaptação audiovisual primeiro, dificilmente teria me interessado pelo livro. O filme não ficou mais engraçado, não ficou mais profundo, não ficou mais abrangente, só ficou mais bobo. Parece aquelas adaptações que o Casseta & Planeta fazia das novelas, inclusive, deve ser por isso que eles mudaram o nome.