Notas de uma mente inquieta

O Eternauta

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Venho compartilhando com vocês meu interesse recente nas obras clássicas de quadrinhos e um dos que já estava na minha lista era O Eternauta. Um quadrinho argentino de ficção científica da década de 50, com artes belíssimas e um texto onde debate sobre os anos de ferro vividos aqui na América Latina.

Com muita surpresa descobri que foi recém lançada a adaptação audiovisual desta obra pela Netflix, com nada menos que Ricardo Darin como protagonista. A temporada é bem curta com 6 episódios que devorei-os em 2 dias. A cadência narrativa é muito boa, prendendo sua atenção pelo que vem a seguir sem precisar exagerar nos cliffhangers.

Gostei muito da série, achei a produção de altíssima qualidade para os padrões sulamericanos. Os cenários pós-apocalípticos muito bem trabalhados e com a amplitude que a história pede. Vemos vários planos abertos da cidade com os mais obscuros detalhes, sejam os "monstros" ou as multidões. Tão bem feito que realmente precisa se esforçar para identificar onde o CGI foi aplicado.

Sobre a trama, como mencionei, já conhecia um pouco da história mas eu esperava que as metáforas para as guerras e regimes autoritários da Argentina seriam bem mais diretos. Não sei se essa distinção se deu pela adaptação, pois a história é localizada para os dias atuais ou por deixar o clímax dessa abordagem para as próximas temporadas (a história não se conclui nesta primeira). Entrei esperando um "1984" mas achei mais como o "Senhor da moscas". Os dilemas, em sua maioria, se dão na interação entre os próprios conhecidos. As demonstrações hobbesianas de ver o homem se transformando no seu próprio vilão em questões de dias, tema que também está bem presente em outras séries contemporâneas, me fez pensar muito em como podemos nos resguardar desses futuros caóticos.

É notório que houve uma preocupação por parte da produção em tornar a série próxima dos moldes de distopias conhecidas globalmente mas ao mesmo tempo tem uma excelente representação da cultura Argentina. Não apenas pela geografia, mas nos signos usados ao longo de toda a obra. Ficou muito na minha mente a cantoria que se deu no velório de um personagem, e a contemplação de uma estátua de São Jorge. Até mesmo detalhes que me deixaram curioso para melhor entender a História da Argentina, como as visões de guerra Juan. Que guerra foi essa lutada pela Argentina nas Maldivas?

Fiquei ansioso pela 2a temporada mas ainda mais por ler o quadrinho. Em breve compartilho por aqui a comparação com a obra original.

🚨 Área com spoilers 🚨

Tem algumas coisas que me deixaram muito encucado:

A ideia toda de um apocalipse me vem fazendo pensar ultimamente. Também estou acompanhando The Last Of Us e o Rei de Lata, e nesses casos você vê a diferença que faz o senso de comunidade nestes casos. Até mesmo nos lembrando sobre os períodos da pandemia de Covid e em como ter os parentes por perto foi algo muito importante para superar aquele momento, além de toda a logística de suprimentos e recursos naturais. Li um artigo falando do crescimento dessa corrente sobrevivencialista na extrema-direita dos EUA. Será se faz sentido se preparar de alguma maneira para essas catástrofes? Será que ser otimista demais com o mundo pode ser fatal?

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