Ruptura - 2a temporada
Não tem quem eu conheça que não tenha ficado maluco com o final da primeira temporada de Ruptura. O mundo foi sendo apresentado devagarzinho, com as maluquices da Lumon que soavam como uma crítica caricata ao mundo do trabalho mas se encerrou com uma grande pergunta: que porra é que tá acontecendo nesse lugar?
Não sei se todos ficaram com a mesma impressão mas eu imaginei que a segunda temporada se iniciaria já com essa resposta. Não foi bem assim, apesar daquela abertura eletrizante, lindíssima diga-se de passagem, a temporada se inicia meio morna, apresentando novos personagens e reestruturando o dia-a-dia do RMD.
O quarto episódio foi também outro ponto alto desta temporada, aquelas cenas externas e todo o plot por trás desse passeio ao ar livre deles foi realmente muito bem criado. O episódio todo tem uma brincadeira de eles estarem no mundo real mas tudo soa fantástico. Essa exploração do mundo criado pela Lumon acontece durante toda a temporada, seja em salas novas que são apresentadas, ou em novos andares, até mesmo novas cidades, e tudo isso desenha melhor a mitologia criada ao redor do Eagan, mas pouco resolve o grande dilema trazido por Mark S. na temporada anterior.
Falando dele, ou pelo menos incialmente do Innie, ele não tem como estar mais confuso. A dicotomia do ajudar a sua versão externa com o dilema da esposa e viver o seu romance com a Helly é realmente angustiante. Toda a metáfora criada pela divisão das duas versões de si mesmo está potencializado neste dilema: os desejos das duas partes de si são excludentes? Já o Outie tem sua inteira motivação em buscar a esposa, vivendo umas espécie de teoria do luto ao contrário, até cair de cabeça (literalmente) na ideia de buscar informações sobre o que fizeram com Gemma. Essa batalha toda indo ao seu ápice com o diálogo (ou seria monólogo) antológico entre Innie e Outie.
Acho que já deixei evidente que acho a execução da obra magistral. A série conseguiu criar uma trama repleta de signos que nos fazem realmente filosofar sobre os dilemas ali apresentados, podendo até mesmo viajar em um mundo de teorias que confesso que ainda não dei atenção com medo de estragar a experiência de criar a minha própria.
Achei que houve alguma certa encheção de linguiça nessa temporada, não gostei muito do episódio da Cobel voltando pra cidade natal, ou achei toda o núcleo ao redor do Irving bem despropositada. Sem falar na Ms. Casey que eu me pergunto se fosse removida por fãs inteiramente da temporada se faria alguma falta. Entendo que tudo isso ajuda na expansão de horizontes da narrativa mas é muito broxante quando se tem tanta coisa legal a ser explorada.
A temporada se encerra não tão empolgante quanto a primeira mas traz a tona o principal dilema da série que deverá ser o tom inteiro da terceira temporada: como lidar com os innies quando eles rompem com seus outies?